August 31, 2020
Photo by Tim Mossholder on Unsplash
Esta vida moderna exige demais, não é mesmo? É trabalho, organização da casa, compras do mês, filhos, academia, curso de línguas, família inteira em casa de quarentena… Ufa, cansa só de listar! Haja malabarismo para dar conta de tudo. Até que chega o fim do dia e para se recompensar por todo esforço, muitos de nós seguimos o mesmo roteiro: se afundar no pote de sorvete {ah, mas é artesanal} ou pedir um hambúrguer {com batatas fritas, claro}.
“Nessas horas, o que acontece é que tentamos compensar o sentimento de cansaço, frustração ou estresse com o prazer momentâneo e rápido da comida ou bebida. Mas isso não resolve”, diz a Alessandra Carreiro, nutricionista do Time Alice com formação em comportamento alimentar.
O problema não é comer uma vez ou outra de forma emocional. O grande perigo de ter esse comportamento com frequência é que ele rapidamente pode se tornar um hábito. Isso porque, essa atitude de "recompensa pela boca" é uma baita armadilha para o psicológico e, consequentemente, para o corpo.
Já se perguntou por que a gente nunca quer se presentear com uma saladinha gostosa depois de um dia cansativo? Isso é consequência do nosso sistema de recompensas e dos alimentos palatáveis.
O nome não é tão bonito, mas estamos falando daquelas comidas que agrada só de imaginar, sejam elas doces ou salgadas.
O ponto é que nosso cérebro entende que um “sabor gostoso” é aquele que contém o combo perfeito: açúcar, gordura ou sal. Entram nesta listinha: chocolate, batata frita, refrigerante, sorvete, pizza, pastel, hamburguer... {aposto que você já está até salivando}.
Todos esses alimentos foram criados por nós, exatamente porque eles trazem essa grande sensação de prazer e não encontramos combinações assim na natureza. Vamos pensar juntos: o mel que vem da natureza é doce e rico em açúcar, já o creme de avelã além do açúcar também tem grande quantidade de gordura, o que explica a maior sensação de prazer com ele.
O ato de comer é fisiológico: comemos alimentos para o nosso organismo sobreviver. Quando estamos em jejum e com fome, nosso corpo libera uma série de sinais para o nosso cérebro entender que está na hora de comer. Ao ingerir os alimentos e mastigá-los, o corpo libera outros hormônios que nos avisam que estamos ficando saciado e que, portanto, podemos parar por ali.
Mas, quando queremos uma pizza porque estamos cansados, não há relação com sobrevivência, e sim, com prazer. A esse tipo de fome {ou melhor dizer, vontade} damos o nome de “fome hedônica”, ou mecanismo hedônico.
Na fome fisiológica, a quantidade que comemos está atrelada a estímulos hormonais. Na fome hedônica, os principais fatores que influenciam a nossa decisão sobre o que e quanto comer são a palatabilidade (o quanto um alimento é agradável ao nosso paladar) e o nosso estado emocional {quem nunca, não é?}.
O nosso cérebro possui o chamado sistema de recompensa, aquele que nos motiva a buscar situações que provoquem prazer. Segundo o artigo “Recompensa Alimentar: mecanismos e implicações para a obesidade”, publicado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Lisboa, esse mecanismo é acompanhado das seguintes emoções: antecipação, expectativa, prazer e memória.
Para entender melhor, vamos considerar a TPM. Para muitas mulheres, é um período de grande ansiedade, por isso, pensamos e antecipamos o prazer que seria comer um chocolate para nos sentirmos melhor. Nesse caso, basta ver um chocolate no armário, que o cérebro libera o hormônio da dopamina, que aumenta a motivação (expectativa) para ela querer devorar o chocolate. Como ela está ansiosa e “é só por aqueles dias”, “ela merece comer e ter aquele prazer”.
Depois de comer, o que acontece? O chocolate, rico em açúcar e gordura, atua na liberação de um hormônio chamado serotonina, que dá a sensação de prazer e bem-estar. “De forma momentânea, a ansiedade diminuiu e então aprendemos, por meio da memória, que comer chocolate na TPM nos faz sentir melhor, e então passamos a repetir este comportamento para sempre termos bem-estar”, explica a nutricionista Alessandra Godoy nutricionista do Time Alice, com especialização em nutrição esportiva. A mesma coisa acontece quando associamos uma recompensa a um dia cheio no trabalho.
É claro que não é preciso radicalizar. Sair para comer quando realizamos uma grande conquista, saborear um bolo de aniversário ou então comer menos quando estamos tristes é absolutamente normal.
O que não é bom é quando comemos ao invés de lidar com os nossos sentimentos {como tapar o sol com uma peneira}. Como a comida traz um prazer imediato esse comportamento é reforçado e pode virar um ciclo vicioso, e toda vez que a gente sente algum desconforto {tédio, carência, tristeza, frustração, ansiedade}, podemos agir de forma automática.
“Se a gente não parar para prestar atenção e entrar em contato com o que estamos sentindo, comer não será uma solução e, pelo contrário, pode trazer mais um problema, como a culpa.” alertam as nutris da Alice. Além do que, nesse contexto, geralmente comemos rápido e sem prestar atenção, o que pode levar ao exagero. A longo prazo, o hábito pode repercutir no ganho de peso, que por sua vez pode levar a doenças como pressão alta, colesterol alto, diabetes, problemas osteomusculares (aquela dor nas costas ou no joelho que nunca passam), entre outros.
"Para simplificar esse cenário, o importante é não “engolir” nossos sentimentos, mas sim, aprender a lidar com eles e procurar ajuda, se não a conta não fecha", resume a nutricionista de Alice.
Veja algumas ideias para te ajudar na hora que o pensamento “hoje eu mereço” vier.
Que tal um banho relaxante em vez da comida? Ou ouvir aquela música que te faz tão bem? Além das dicas da nutricionista, o legal é criar a sua própria lista a partir de suas preferências e hobbies {veja e teste o que funciona para você}.
por Alê Godoy e Alê Carreiro, nutricionistas do Time de Saúde Alice
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